Em 1945 o casal viajou para Hollywood, onde
Alex Viany assumiu o posto de correspondente de O Cruzeiro, a
principal revista semanal brasileira de então. Além
disso, também traduzia para o português filmes americanos.
Durante a estadia nos Estados Unidos, aproveitou para aprofundar
seus conhecimentos cinematográficos, através do
contato com filmes, livros e revistas de difícil acesso
no Brasil, das visitas aos estúdios, de dois cursos de
cinema – nos quais teve professores como o diretor Edward
Dmytryk e o também diretor e roteirista Herbert Biberman
– e da amizade com Hans Winge e Vinicius de Moraes –
então vice-cônsul brasileiro em Los Angeles.
Paulatinamente desiludiu-se com o american
way of life e com o sistema de produção dominado
pelos grandes estúdios, passando a defender idéias
políticas de esquerda e atentando para o neo-realismo italiano,
o documentário e os filmes "B" produzidos por
Val Lewton. Devido à importância de O Cruzeiro e
ao estilo leve e informativo dos artigos de Viany, seu nome tornou-se
conhecido na imprensa brasileira.
Quando o casal voltou ao Rio de Janeiro em
dezembro de 1948, Alex Viany trazia na bagagem o projeto da revista
Filme, desenvolvido com Vinicius de Moraes. No ano seguinte são
publicados os dois únicos números da revista. Passou
a colaborar então em vários periódicos como
A Cena Muda, Revista do Globo e Correio da Manhã, além
de manter um programa semanal sobre cinema na Rádio M.E.C.
Ambicionando passar para a produção, escreveu em
1949 o roteiro Última Noite, nunca filmado.
Durante a ebulição das tentativas de cinema industrial
em São Paulo, Viany mudou-se para esta cidade ao ser convidado
por Mario Civelli para integrar o Departamento de Roteiros da
Companhia Cinematográfica Maristela, corria o ano de 1951.
Após poucos meses foi demitido em razão de uma crise
na empresa. Em São Paulo conheceu Carlos Ortiz, Ortiz Monteiro,
Nélson Pereira dos Santos, Galileu Garcia e Roberto Santos,
entre outros simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro, passando
a alinhar-se com o stalinismo. Este grupo, que divulgava suas
idéias através da revista cultural Fundamentos,
organizou debates que discutiam os problemas econômicos
e artísticos do cinema brasileiro, opondo-se à Vera
Cruz. O processo culminou no I Congresso Paulista do Cinema Brasileiro
(1952) e nos I e II Congressos Nacionais do Cinema Brasileiro
(1952 e 1953, respectivamente), nos quais Alex Viany teve ampla
participação.
Ao voltar ao Rio de Janeiro em 1952, dirigiu Agulha no Palheiro,
seu longa-metragem de estréia, cujo elenco é composto
por Fada Santoro, Roberto Batalin, Jackson de Souza, Sara Nobre,
Dóris Monteiro e Hélio Souto. O roteiro foi publicado
em 1983 pela Universidade Federal do Ceará e pela CAPES.
O enredo gira em torno de uma jovem interiorana que vem ao Rio
de Janeiro procurar o rapaz que a engravidou, na cidade grande
a moça é ajudada por uma simpática família
suburbana. Com essa fita o diretor pretendia mostrar a simplicidade
e dignidade do povo, além de retratar o seu cotidiano.
Logo em seguida, 1953, foi chamado para dirigir Rua Sem Sol, mistura
de melodrama com pitadas de policial. O filme tem no elenco Glauce
Rocha, Dóris Monteiro, Modesto de Souza, Carlos Cotrim
e Gilberto Martinho.
Nessa época Viany trabalhou intensamente na produção
cinematográfica: assistente de direção em
Aglaia (Ruy Santos, filme inacabado), co-roteirista de Carnaval
em Caxias (Paulo Vanderley, 1953), diretor de produção
em O Saci (Rodolfo Nanni, 1952) e Balança Mas Não
Cai (dir: Paulo Vanderley, 1953). Escreve com o amigo Alinor Azevedo
pelo menos dois roteiros de grande importância, Feitiço
da Vila (1954) e Estouro na praça (1957), ambos infelizmente
nunca filmados. Dirigiu ainda, em 1955, Ana, episódio brasileiro
do longa-metragem A Rosa dos Ventos (Die Windrose), produzido
pela Alemanha Oriental e organizado por Joris Ivens. Ana, cuja
história é de Jorge Amado, tem como principais atores
Miguel Torres, Aurélio Teixeira e Vanja Orico, tematizando
a migração de retirantes nordestinos e a exploração
a que eles estão sujeitos. A partir de 1954 Viany voltou
a militar de forma contínua na imprensa, escrevendo ao
longo da década em vários periódicos: Manchete,
Jornal do Cinema, Shopping News (RJ), Para Todos, Leitura e Senhor.
Além disso, fez as notas para a primeira edição
brasileira de Argumento e Roteiro (1957), de Umberto Barbaro,
e a segunda edição de O Cinema (1956), de Georges
Sadoul. Em 1959, pelo Instituto Nacional do Livro, publicou Introdução
ao Cinema Brasileiro. O livro foi reeditado em 1987, uma co-edição
Alhambra-Embrafilme, e em 1993 pela Revan. A Introdução
ao Cinema Brasileiro teve grande repercussão no meio da
cultura cinematográfica e também junto aos jovens
cineclubistas e críticos que pouco depois integrariam o
Cinema Novo.
Com o aparecimento do Cinema Novo, Viany encontrava-se visceralmente
ligado ao movimento, divulgando-o e discutindo-o em artigos e
debates. O seu terceiro longa-metragem, Sol Sobre a Lama, de 1962,
está impregnado de idéias estéticas e políticas
características do Cinema Novo. A história trata
de uma comunidade de feirantes que enfrenta a elite econômica
de Salvador, a maior inspiração artística
do filme é a produção moderna japonesa, especialmente
Nagisa Oshima. Dentre os principais intérpretes: Geraldo
del Rey, Othon Bastos, Glauce Rocha, Gessy Gesse, Teresa Raquel
e Antônio Pitanga. Entretanto, o resultado final não
agradou a Viany, pois o filme foi remontado à sua revelia
pelos produtores.
Nesse período, integrou o C.T.I. (Comando dos Trabalhadores
Intelectuais), formado, entre outros, por Ênio Silveira,
Dias Gomes, Nélson Werneck Sodré e Álvaro
Lins. O C.T.I. era um grupo de esquerda que apoiava as reformas
de base do governo João Goulart.
Nos anos 60, Viany passou a trabalhar na Civilização
Brasileira como editor da coleção Biblioteca Básica
de Cinema, que publicou títulos importantes de autores
nacionais e estrangeiros. Também integrou a redação
da Revista Civilização Brasileira, através
da qual promoveu discussões sobre os rumos do Cinema Novo
após o golpe militar de 1964. No campo da crítica,
atuava no conceituado Jornal do Brasil.
Alex Viany voltou à produção em 1974, dirigindo
o curta-metragem A Máquina e o Sonho, documentário
sobre Ludovico Persici, pioneiro do cinema brasileiro que inventou
uma máquina que filmava, revelava e projetava. Dirigiu
ainda os curtas documentários Humberto Mauro: Coração
do Bom (1978) e Maxixe, a Dança Perdida (1979). No primeiro
homenageia aquele que seria, ao seu ver, o maior cineasta brasileiro,
no outro investiga a importância deste ritmo musical. Ampliando
o diálogo com a obra de Mauro, realizou o longa-metragem
A Noiva da Cidade, cuja idéia original é do cineasta
mineiro. O filme, de 1978, teve uma complicada produção
e pouca repercussão de público. No elenco estão
Elke Maravilha, Jorge Gomes, Grande Otelo, Paulo Porto e Betina
Viany – filha de Alex. O universo da fita é tipicamente
de Humberto Mauro, narrando a história de uma famosa atriz
que volta para a sua pequena cidade natal no interior de Minas
Gerais e é seduzida pelo vento.
Desenvolvendo suas atividades como historiador, Viany escreveu
textos de relevo como O Velho e o Novo (1965), Quem é Quem
no Cinema Novo Brasileiro (1970) e Dois Pioneiros: Afonso Segreto
e Vito di Maio (1976). No primeiro historiciza as raízes
do Cinema Novo e quais as perspectivas diante do golpe militar
de 1964, o segundo é composto de pequenas biofilmografias
dos principais componentes do movimento e o terceiro investiga
a introdução do cinema no Brasil. Também
foi editor de cinema das enciclopédias Delta-Larrousse
e Mirador e organizou os livros Humberto Mauro: Sua Vida / Sua
Arte / Sua Trajetória no Cinema (1978) – que reúne
artigos sobre o diretor, sua filmografia e depoimentos –
e Minhas Memórias de Cineasta (1978) – no qual Luiz
de Barros rememora sua trajetória. Além disso, nos
anos 70 e 80 auxiliou inúmeras pesquisas sobre cinema brasileiro
e realizou para o Setor de Rádio e Televisão da
Embrafilme entrevistas com personalidades ligadas à nossa
produção cinematográfica.
Alex Viany faleceu no Rio de Janeiro a 16 de novembro de 1992,
com 74 anos. Seu importante arquivo pessoal encontra-se depositado
na Cinemateca do M.A.M. Postumamente, José Carlos Avellar
organizou o livro O Processo do Cinema Novo, publicado em 1999
pela Aeroplano, volume que reúne artigos de Viany e entrevistas
realizadas por ele com os principais diretores daquele movimento
cinematográfico.
Autor: Arthur Autran – professor
da Universidade Federal de São Carlos
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